20 de março de 2016

Amor Parasita

O Amor é esse bicho faminto e sem paladar.
Devora cada pedaço do meu ser, digere lentamente e regurgita algumas partes, só para ter o prazer de devora-las novamente.

O Amor não tem olfato e fede a esses cigarros baratos.
É uma fumaça que impregna cada canto da pele e cada pelo. Cada gota do meu suor e das minhas lágrimas. Esse fedor que anuncia chegada.

O Amor não tem tato, nem tenta me sentir.
Fica apenas se apalpando, como se quisesse penetrar sua própria pele. Sou Eu quem sinto os arrepios. É Ele quem provoca. Mas se poupa de me roçar.

O Amor não enxerga nem a si, quem dirá o que está a sua volta.
Isso já é fato sabido. Sua cegueira é vista como medo da perdição no próprio ego. Por isso permanece cego.

Mas o que ninguém sabe é que o Amor é esperto.
Expulsou tudo de mim para ter seu próprio espaço.
Eu, como bom hospedeiro, o trato bem. Por vezes sinto incomodo e coceiras internas. Meu corpo até tenta se livrar desse importuno parasita. Mas Ele, o maldito do Amor, é bicho ruim!
Uma praga, difícil de se livrar. Cada vez morde mais fundo e injeta seu veneno em mim.

Pouco a pouco me deformo, definho e desfiguro.
Quando olho no espelho, já não me reconheço. Não sei sequer meu nome. Já me trato pelo outro e me refiro a tudo no plural. Nem falar eu sei mais. Balbucio sons e expressões que só Eu e Ele entendemos.

Tem dias que me sinto melhor, como se Ele tivesse abandonado a morada que fez em mim. Tem dias que sinto falta, acho que não há vida de hospedeiro sem parasita.

Dizem que a cura é quando deixa de ser platônico.





Giovanni Venturini – 04/09/2015

2 de março de 2016

Peito Ártico

penetro tua caixa torácica
com meu coração fálico
faço dele um barco
para atravessar teu peito
ártico



Giovanni Venturini - 03/07/2015

17 de fevereiro de 2016

Peter

Peter, 

Muitas vezes temos a faca e o queijo na mão, mas optamos em ir até a ratoeira.
Caímos nas armadilhas do comodismo e do caminho mais fácil.

É muito mais simples nos colocar representando “um dos sete”, do que desenvolver um roteiro digno, com uma história que subverta essa lógica, que mostre o outro lado, que mostre o ser humano que somos. É muito mais fácil alimentar e contribuir para que nos enxerguem sempre como os seres mágicos, míticos e fantásticos, que na verdade não somos. 

Você mais do que eu, sabe que isso também se deve a um posicionamento nosso em não aceitar esses personagens. Enquanto tiver gente dizendo sim a essas condições, serão oferecidos somente esses estereótipos batidos e sem graça de personagens “feitos para nós”.

Ultimamente tenho conseguido me esquivar e escolher somente o que considero digno. Mas me pergunto: até quando? Vou bater de frente sozinho? Vou condenar quem aceita isso? Eu também já aceitei por muitas vezes...Todos temos que viver, pagar contas e nos alimentar.

O caminho é árduo e tomo alguns escorregões.

Quando você acha que está tudo indo para o lado certo, que o olhar das pessoas estão mudando, e que enfim conseguimos fazer a mídia nos enxergar com dignidade, eis que surge algo que nos arrasta à força ao mesmo ponto.

Peter, todos sabem que você é um ídolo e inspiração para que eu siga firme no caminho... mas confesso que vez ou outra dá um desgosto essa nossa profissão. Uma vontade de desistir e deixar tudo como está. Como mudar o olhar do mundo? Algumas decisões são difíceis. 
Às vezes, mas somente às vezes, me enxergo como todos os outros me enxergam: pequeno para mudar tudo isso.
Falta mais que criatividade para mudar. Falta coragem dos roteiristas, dramaturgos, escritores, diretores... até mesmo nossa.

Uma das lições mais valiosas que aprendi com a minha mãe é: “Quem quer faz. Não pede, não manda. Faz!”. Não podemos mais ficar esperando que os corajosos e criativos apareçam para mudar isso. Até porque são poucos os que pensam assim. Esse caminhar é nosso.

Por aqui os passos ainda são curtos. Vou precisar retroceder. Dar um passo atrás para me animar e conseguir dar dois à frente.
Ainda não enxergo o final do caminho. Talvez nunca o veja, mas quero ter certeza que cheguei o mais próximo possível.

Precisava dividir isso com alguém que me entendesse. Não achei pessoa mais indicada que você.
Sigamos! Você daí e eu daqui. Quem sabe um dia lado a lado.

Forte abraço.

Obrigado pelo combustível que você é.


Giovanni Venturini   - 15/02/16