Peter,
Muitas vezes temos a faca e o queijo na mão, mas
optamos em ir até a ratoeira.
Caímos nas armadilhas do comodismo e do caminho mais fácil.
É muito mais simples nos colocar representando “um dos sete”,
do que desenvolver um roteiro digno, com uma história que subverta essa lógica,
que mostre o outro lado, que mostre o ser humano que somos. É muito mais fácil
alimentar e contribuir para que nos enxerguem sempre como os seres mágicos,
míticos e fantásticos, que na verdade não somos.
Você mais do que eu, sabe que isso também se deve a um posicionamento
nosso em não aceitar esses personagens. Enquanto tiver gente dizendo sim a essas
condições, serão oferecidos somente esses estereótipos batidos e sem graça de
personagens “feitos para nós”.
Ultimamente tenho conseguido me esquivar e escolher somente
o que considero digno. Mas me pergunto: até quando? Vou bater de frente
sozinho? Vou condenar quem aceita isso? Eu também já aceitei por muitas
vezes...Todos temos que viver, pagar contas e nos alimentar.
O caminho é árduo e tomo alguns escorregões.
Quando você acha que está tudo indo para o lado certo, que o
olhar das pessoas estão mudando, e que enfim conseguimos fazer a mídia nos
enxergar com dignidade, eis que surge algo que nos arrasta à força ao mesmo ponto.
Peter, todos sabem que você é um ídolo e inspiração para que
eu siga firme no caminho... mas confesso que vez ou outra dá um desgosto essa
nossa profissão. Uma vontade de desistir e deixar tudo como está. Como mudar o
olhar do mundo? Algumas decisões são difíceis.
Às vezes, mas somente às vezes,
me enxergo como todos os outros me enxergam: pequeno para mudar tudo isso.
Falta mais que criatividade para mudar. Falta coragem dos
roteiristas, dramaturgos, escritores, diretores... até mesmo nossa.
Uma das lições mais valiosas que aprendi com a minha mãe é:
“Quem quer faz. Não pede, não manda. Faz!”. Não podemos mais ficar esperando
que os corajosos e criativos apareçam para mudar isso. Até porque são poucos os
que pensam assim. Esse caminhar é nosso.
Por aqui os passos ainda são curtos. Vou precisar
retroceder. Dar um passo atrás para me animar e conseguir dar dois à frente.
Ainda não enxergo o final do caminho. Talvez nunca o veja, mas quero ter certeza que cheguei o mais próximo possível.
Ainda não enxergo o final do caminho. Talvez nunca o veja, mas quero ter certeza que cheguei o mais próximo possível.
Precisava dividir isso com alguém que me entendesse. Não
achei pessoa mais indicada que você.
Sigamos! Você daí e eu daqui. Quem sabe um dia lado a lado.
Forte abraço.
Obrigado pelo combustível que você é.
Giovanni Venturini - 15/02/16
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